ícaro ressurreto

Nuvens te sustinham todo algodoado
entre almofadinhas brancas corroídas
por um filete de sangue que ainda minava
de teu corpo dissociado de uma asa.
Antes rodopiavas em queda
acordado de teu sonho de voar.
Sonho desfeito entre um céu e um mar rarefeitos.
Então te resgatamos e te instalamos aqui
neste palanquinho projetado
sobre o primeiro penhasco deparado.
O que te chamava sempre e sempre mais acima
de alturas que ninguém imagina?
Com uma asinha a menos
teu coração voaria menos altaneiro?
Agora com cera de vaga-lume
por fora colamos a tua asa
e com tutano de chifre de unicórnio
liga e seiva novas injetamos
em tuas articulações combalidas.
E de mãos dadas contigo
ao soprar de novo o vento este
revoaremos tu e eu e toda
a nossa legião celeste.

(em parceria com Solange Firmino)

Nuvens carregam/o corpo sem asa

O céu côncavo/abarca o vôo