Em meio ao frescor bêbado e trôpego da madrugada,
Lancei farpas ao reino fluido das águas,
Incitei cavalos para o frêmito dos galopes
E banhei teu corpo com o brilho cetíneo da noite.
Enquanto o breu se tingia ao máximo com seu guache,
Fui poeta, profeta, mendigo e mandarim.
Fui todos os segredos, enfim:
Mar rumorejante, grilinho com o cricrilar mais estridente,
[centauro e arlequim.
E, se por um lado, mais de uma vez a noite
Relutou em dissipar seus inúmeros flancos,
Por outro dançavam unicórnios, medusas e demônios
Nos lampejos alvoroçados dos instantes.
Os fogos, por sua vez, ensaiavam atribulados tangos,
Apavorados com a chegada inevitável do amanhecer.
E nós, ansiosos por isto, sem demora
Convocamos a festa mambembe para rastejar pela vida afora
Todo poema, por mais que se constele, quer ter charme de estrela isolada, mas nunca será auto-suficiente. Embora de cara nos ofusque com seu brilho, alguma estrela basta-se se brilha fora da gente?