tédio esplêndido

Quando o céu denso e grave pesa feito tampa
no meu túrgido espírito imerso em lástimas,
e a já baça extensão abraçando ele se adianta
a nos fiar um dia negro e triste de borrasca;

Quando a terra fende e converte-se em vil masmorra,
onde nossa esperança, com suas asas de morcega,
flerta arredia os muros num vaivém de gangorra
e roça a cabeça nos tetos sôfrega;

Quando a chuva lá fora ostenta seus cilíndricos jorros,
imitando as grades de vasta cadeia,
e cá aranhas caranguejando arregalam os olhos
e se põem a instalar em nosso coração suas teias,

Sinos irrompem em mim, com toda a loucura,
lançando aos céus alaridos plangentes,
ao modo de aberrantes espíritos que em fúria
a gemer desatassem esplendorosamente.

-E longos carros fúnebres - abolida toda música -
passeiam com vagar em nossa alma; minha espera, vesga,
e derrotada, chora; e minha angústia atroz, expondo suas rusgas,
no meu crânio inclinado crava sua flâmula negra.